Blurring writing

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Eu tinha mania de escrever, de escrever, de escrever… melhorei o meu conhecimento sobre a língua portuguesa na forma teimosa de escrever copiosamente e, de forma peripatética, aprender uma concordância ali e uma nova sintaxe acolá. Eu também tinha muito tempo sobrando, e estava no período final do meu ‘boom’ de leitura e, como alertou Schopenhauer (vide frase abaixo), eu precisava regurgitar as palavras em novas palavras, tal como um fã de glutonia que vomita num ciclo de sífifo.

Esta época não foi um período feliz (e existem eles?), mas foi um bom momento de maturidade acadêmica, onde aprendi algumas formas de “aprender realmente”. Então, (re)escrever era uma forma de desenvolver uma figura ideal de mim mesmo, algo que eu queria mostrar para os que conviviam comigo nesta época, e que não era possível demonstrar numa conversa de bar. Ao mesmo tempo, reescrever as minhas preconcepções era uma forma de aprender sobre o meu modo de raciocinar as ideias.

A mensagem abaixo é um texto de 22/03/2013, denominada de “Epístola ao Congresso”, onde eu repliquei em letras o asco que sentia por um pastor evangélico e suas declarações abomináveis daquele momento:


Escrevi uma carta:

Dada as declarações que ouvi e li do pastor Feliciano sinto em constatar que a sua representatividade política é totalmente alienada da minha comunidade.

Apesar de conviver com pessoas muito religiosas, não percebo manifestações de extrema homofobia e racismo como a dos sr. Marco Feliciano, deputado que demonstra o que há de mais abjeto e desprezível nas conduções dos direitos do ser humano, com sofismas religiosos que denigrem opções sexuais, negros e mulheres.

Vossa Senhoria pode coadunar com os ideais expostos pelo pastor Feliciano, mas entendo que outro representante do congresso com declarações mais sóbrias e sensatas, seria um bom substituto.

Dos imperativos laicos de nossa Carta Magna, e da liberdade de expressão, defendo o direito deste pastor de ser preconceituoso rancoroso como o é, dentro dos ditames de suas crenças religiosas.

Seu pensamento enviesado pela religião pouco me importa na verdade. O que ele não têm o direito é de ofender uma imensa população de brasileiros, rebaixando-os publicamente em declarações a uma categoria de cidadãos inferiores.

E até o presente momento, sua conduta perante esta comissão deveria ser cerceada pelo secularismo das decisões e posicionamentos lá tomadas, e não pelo proselitismo da intolerância religiosa, como é o comportamento atualmente que vejo pela mídia.

Penso que é um dever moral, principalmente perante os preceitos religiosos que embasam o amor e respeito ao próximo, retirar o apoio ao preconceituoso pastor na comissão em que preside.

E é neste ponto que solicito à V. Sª. sua compreensão quanto a necessidade de um presidente de comissão possuir, pelo menos na imagem, a postura de um articulador e colimador de vozes dissonantes, transformando-as em decisões políticas que satisfaçam o interesse público. E que perceba que o pastor que lá se encontra, possui o perfil totalmente contrário, semeando a cizânia até mesmo entre os membros parlamentares da comissão, enquanto sua presença na presidência causa dissabores em diversas esferas da população.

Minha intenção é de sensibilizar este egrégio Congresso a se identificar e eleger com lideranças políticas que sintetizem ideais humanos universais, numa analogia religiosa, separando o joio do trigo. Não é fácil, mas não é impossível.
—–

Como afrodescendente, tendo uma mãe e esposa como exemplos de cidadania e amor, e amigos homossexuais, este parlamentar excretou o que há de mais venenoso e abjeto da torpeza religiosa.

Mas ele possui todo o direito de o ser.

Contudo, penso que ele não deve ter o direito de arrotar discriminações no Congresso Nacional como se representasse a imensa maioria da população brasileira. E muito menos possui a envergadura moral para presidir uma comissão parlamentar, a qual vilipendia em suas pregações religiosas.

A carta acima, foi enviada para os seguintes deputados da bancada do PSC (partido que possui em seu quadro representantes religiosos conservadores de tendência extrema direita, consistindo em sua maioria de católicos e outras denominações pentecostais):

ANDRÉ MOURA PSC/SE
ANTÔNIA LÚCIA – PSC/AC
CADOCA – PSC/PE
COSTA FERREIRA – PSC/MA
DELEY – PSC/RJ
ERIVELTON SANTANA – PSC/BA
HUGO LEAL – PSC/RJ
LAURIETE – PSC/ES
LEONARDO GADELHA – PSC/PB
NELSON PADOVANI – PSC/PR
PROFESSOR SÉRGIO DE OLIVEIRA- PSC/PR
RICARDO ARRUDA – PSC/PR
STEFANO AGUIAR – PSC/MG
TAKAYAMA – PSC/PR
ZEQUINHA MARINHO – PSC/PA

Lembre-se, de que eles acabaram de aumentar as custas de viagens (que em alguns casos representam quase 200% do valor que recebem como salário parlamentar), aumentaram cargos comissionados (média de R$ 150.000,00/ano por cargo comissionado) e elegeram como presidente do Senado um político que carrega uma ficha criminal mais longa que dos chefões do PCC, com acusações de peculato, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, uso de documentos falsos. 

Eles estão literalmente, cagando e andando, para a nossa insatisfação, e não será uma missiva como acima que irá faze-los mudar de opinião. Isto seria ingenuidade.

Para mim, serviu para desopilar o fígado (o que restou dele…).

Sandro Silva


Acho engraçado em como o estilo empolado e cabotino não mudou tanto nestes últimos anos, acho que em decorrência do ambiente em que trabalho. Da mesma forma, lembrei como eu gostava tanto de ler e escrever para os outros, com um ânimo quase que juvenil. Um lado impertinente de meus textos e de minha personalidade nesta época, era a minha mania de expelir números e estatísticas nos textos, algo que, quando mal empregado, elimina qualquer possibilidade de airosidade.

In order to read what is good one must make it a condition never to read what is bad; for life is short, and both time and strength limited.

Arthur Schopenhauer em “On Reading and Books”

Don't be a troll; neither a pussy too.