Estórias da Caserna [9]

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Onde vivo, o racismo é uma realidade ubíqua. Basta olhar em que é que manda e quem é mandado, e olharemos um padrão e regularidade de tez bem distinto entre os dois grupos.

Mas isto não é novidade…

Nesta semana, faleceu uma colega. Pouco conhecia dela além das conveniências sociais trocadas no ambiente de trabalho.

Há uns dez anos atrás, quando estive na sua sala, chamou-me atenção a iconografia sobre sua mesa de trabalho, que representava as formas anímicas da mitologia que ela acreditava. Nunca tive contato mais estreito com pessoas de sua crença, e a variedade de divindades era algo que me fascinava naquela época e até hoje me chama a atenção; uma grande lacuna de meu conhecimento sobre este vasto universo.

Foi chocante para mim, como ateísta, quando ouvi que alguns evangélicos incomodavam-se com o imáginário religioso de sua fé, e que procuravam meios e justificativas para retirar aqueles adereços de sua estação de trabalho.

Fico imaginando o ódio e preconceito dos evangélicos, o suficiente para superar todas as constrições sociais existentes (escritas e não escritas, faladas e não faladas) para expor tamanho ranço religioso de forma aberta e pública, escancarada. Sinceramente, tive uma certa aflição, pois se eu expusesse o rídiculo daquela situação, o ranço se voltaria contra mim (um ateu “encardido” como já me disseram), e eu seria uma abominação muito maior.

Nunca conseguiram fazer nada contra esta colega; mas sinto que a minha covardia favoreceu um clima menos velado de intolerância religiosa onde trabalho.

Possivelmente tenha ocorrido um isolamento laborativo ou outra ‘estratégia’ de ‘competividade’. Nunca saberei, e só posso lamentar a inação de minha parte.

Quem não foi nunca vai ser
Quem já é sempre será
Gira o mundo, roda vida
Na volta você vai voltar

dos mestres Ataulfo Alves e Carlos Imperial

Don't be a troll; neither a pussy too.